10 Fev, 2017 | Notícias
Barragens do Alto Tâmega? “Uma fraude”, dizem os ambientalistas
A associação ambientalista GEOTA reafirmou hoje a sua oposição à construção das três novas barragens do Alto Tâmega e acusou o projeto de representar “uma fraude”, contestando os números da produção elétrica apresentados pela concessionária Iberdrola.
Joanaz de Melo, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), disse, em comunicado, que o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET) é “uma fraude” e acusou o Governo “de laxismo”.
Isto porque, segundo o responsável, quando em abril do ano passado se reavaliou o Programa Nacional de Barragens, por obrigação do acordo que suporta o governo entre o Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) e o PS, “recusaram-se a olhar para o que ia ser feito no Tâmega”.
“As obras ainda não tinham começado, de facto, e o acordo referia explicitamente este projeto. Havia alguns acessos, um túnel técnico e nada mais. O PS ignorou o acordo, o PEV deixou que fosse ignorado e o Governo fez de porteiro da Iberdrola, deixando-a entrar à vontade para destruir um rio que é ganha-pão de centenas de famílias – na produção agrícola, no vinho verde, nos desportos de águas bravas”, salientou o dirigente.
A espanhola Iberdrola fez hoje, em Ribeira de Pena, uma apresentação pública do projeto, que inclui a construção de três barragens que, segundo a empresa, a partir de 2023 podem produzir anualmente “1.760 gigawatts hora (GWh), ou seja, 0,6% do consumo elétrico do país”.
O GEOTA, que desde o início se opôs à construção deste empreendimento, disse que fez “as contas” e contestou o valor anunciado pela empresa “quanto à real produção destas obras”.
“O SET contribuirá apenas com 0,1% da energia nacional e 0,6% da eletricidade produzida. A diferença explica-se com o critério de avaliação: a Iberdrola invoca a produção bruta e o GEOTA defende que o que deve ser avaliado é a produção líquida. Isto é, a eletricidade efetivamente injetada na rede nacional e pronta a ser consumida”, referiu a organização.
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Para Marlene Marques, presidente do GEOTA, “a criação de emprego é uma falácia, pois são postos de trabalho temporários”.
Durante a construção das barragens de Daivões, Gouvães e do Alto Tâmega, a Iberdrola disse que vão ser criados 13.500 empregos diretos e indiretos
“Por via da destruição dos solos férteis e do último rio com um grande troço livre em Portugal, destroem-se postos de trabalho locais na agricultura e turismo de natureza”, acrescentou Marlene Marques.
Defendeu ainda que “o retorno real das novas barragens do Tâmega é insignificante face aos impactes sociais, ambientais, culturais e económicos do projeto” e que com a evolução esperada das alterações climáticas na região mediterrânica, “tenderá a reduzir-se ainda mais nas próximas décadas”.
As novas barragens do Tâmega, em conjunto com Foz Tua (concessionada à EDP), fazem parte do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico e, segundo o GEOTA, beneficiam de um “subsídio direto do Estado de 21,6 milhões de euros, por ano, durante 10 anos”.
– FIM –
3 Out, 2016 | Arquivo 2015 | 2020
Quase uma década após o lançamento do Plano Nacional de Barragens, apenas três grandes projetos subsistem. O Governo reavaliou o Plano no início do ano e manteve Foz Tua, Fridão e o Sistema Eletroprodutor do Tâmega. Os três empreendimentos vão contribuir apenas com 1,7% para o fornecimento de eletricidade.
Biosfera é um programa da Farol de Ideias, transmitido na RTP2, aos sábados, pelas 13h30. Esta reportagem foi emitida originalmente a 2016-09-24.
7 Set, 2016 | SEM INTERESSE
Nota técnica | 20 de julho de 2016
A Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) é o órgão da Administração Pública Portuguesa que tem por missão contribuir para a conceção, promoção e avaliação das políticas relativas à energia e aos recursos geológicos (DGEG, 2015a). Este órgão publica anualmente os balanços e indicadores energéticos nacionais. A informação disponível mais recente é relativa ao ano de 2014 (DGEG, 2015b)..
A energia primária compreende todas as formas de energia antes de transformadas. A eletricidade é uma energia secundária, dado que pressupõe essa transformação (ex: queima de carvão numa central termoelétrica para produção de eletricidade). Segundo a DGEG, em 2013 o consumo de energia primária foi de 20 921 ktep, equivalente a 243 310 GWh (DGEG, 2015a; IEA, 2016). Desse valor e para o mesmo ano, 52 802 GWh/ano correspondem à disponibilidade de energia elétrica para consumo (DGEG, 2015c).
De acordo com os dados do Ministério do Ambiente sobre o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET), esta obra terá uma produtibilidade líquida média de 333 GWh/ano.
Assim, para o ano de referência 2014:
Contribuição do SET para as necessidades energéticas nacionais:
Produtibilidade líquida média SET / Consumo de energia primária x 100% = 0,14 %
Contribuição do SET para a produção elétrica nacional:
Produtibilidade líquida média SET / Produção de energia elétrica x 100% = 0,63 %
O SET contribuirá assim com 0,1 % da energia nacional e 0,6 % da eletricidade produzida, com um custo comprovado entre 5 a 10 vezes superior às alternativas disponíveis (GEOTA, 2015).
Um retorno insignificante face aos impactes sociais, ambientais, culturais e económicos deste projeto, e que com a evolução esperada das alterações climáticas na região mediterrânica, tenderá a reduzir-se ainda mais nas próximas décadas.
- Conheça as contas detalhadas da contribuição das barragens de Foz Tua e Fridão para a produção energética e elétrica nacional.
Referências
Relativamente à produtibilidade líquida média dos diferentes aproveitamentos hidroelétricos, dada a existência de múltiplas fontes com dados divergentes e de modo a manter um grau de coerência na escolha das referências, optou-se pela utilização de informação contida 1º) nos Contratos de Concessão, 2.º) nos Websites das concessionárias, e 3.º) no documento mais recente de entidades oficiais.
AIE, 2016 – Agência Internacional de Energia (2016). Unit converter. (consultado a 6.06.2016)
DGEG, 2015a – Direção-Geral de Energia e Geologia (2015). Balanço Energético 2014. Portugal.
DGEG, 2015b – Direção-Geral de Energia e Geologia (2015). Disponibilidade de Energia Elétrica para Consumo (2000-2014). (consultado a 6.06.2016)
DGEG, 2016 – Direção-Geral de Energia e Geologia (2016) Site DGEG/Missão. (consultado a 6.06.2016)
EDP, 2016 – Energias de Portugal (2016). Fridão Informação Técnica. (consultado a 20.07.2016)
GEOTA, 2015 – Grupos de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (2015). O Programa Nacional de Barragens: desastre económico, social e ambiental Memorando v. Julho 2015.
MA, 2016 – Ministério do Ambiente. Plano Nacional de Barragens de Elevado potencial Hidroelétrico – Visão Integrada da Utilização, Renaturalização e Proteção dos Rios. Portugal
MAOT, 2011 – Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território (2011). Contrato de concessão relativo à utilização dos recursos hídricos para captação de água superficiais destinadas à produção de energia hidroeléctrica. Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Contrato de concessão n.º 25/ENERGIA/INAG/2011. Portugal
Nota: Texto alterado a 24.01.2017, substituindo a referência à fonte da produtibilidade líquida média do SET. Onde se lia, erradamente, “contrato de concessão“, devia ler-se “os dados do Ministério do Ambiente”.