22 Jun, 2022 | Destaques, Opinião
A sustentabilidade é a capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.
A sustentabilidade depende da resolução de grandes problemas, muitas vezes causados pela atividade humana – a degradação dos recursos naturais, os níveis elevados de desigualdades sociais e de pobreza, e a falta de ética de gestão corporativa não nos permitem assegurar às gerações futuras as oportunidades e qualidade de vida que ainda possuímos.
Historicamente, está provado que o desenvolvimento centrado nos valores económicos, à custa da saúde ecológica e da equidade social, não resulta numa prosperidade duradoura. Da mesma forma, o desenvolvimento não se pode centrar isoladamente nos valores ambientais ou sociais. Um desenvolvimento sustentável é o que nos permite harmonizar a preservação do ambiente natural com a coesão social e com a prosperidade económica.
Preservar os rios é ser sustentável:
Na dimensão Ambiental, porque os rios
– são essenciais à sobrevivência das espécies e à manutenção das paisagens naturais
– são factores chave para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas e do declínio das espécies, os grandes problemas ambientais da atualidade
– são dos habitats naturais mais ameaçados no planeta
– porque um terço das espécies de água doce estão em risco de desaparecerem para sempre
Na dimensão Social, porque os rios promovem o bem-estar humano – neles podemos conviver, deles obtemos diversão, prazer e relaxamento. Deles obtemos a água doce que bebemos, deles obtemos os peixes de água doce que comemos (enguia, salmão, truta e muitos outros). Em muitos lugares, os rios são ainda verdadeiras estradas, que nos permitem chegar de um lado para o outro. Aos rios estão ligadas muitas tradições, envolvendo não só as atividades profissionais ligadas aos rios, como a própria gastronomia tradicional.
Na dimensão económica, os rios são uma mais-valia pelas suas paisagens únicas, pelas suas condições únicas para a prática de turismo de natureza e atividades recreativas, pela sua riqueza cultural e natural, pelos produtos e serviços de ecossistemas que deles podemos retirar.
21 Jun, 2022 | Destaques, Notícias
Estudo global apela aos governos para que intensifiquem os esforços de manutenção para evitar falhas, transbordamentos ou fugas
De acordo com a investigação global, em 2050 a maioria das pessoas viverá a jusante de uma grande barragem construída no século XX, estando muitas aproximar-se dos limites da vida útil para a qual foram concebidas.
Para evitar o potencial de falhas, sobrecargas ou fugas, as barragens exigirão uma manutenção crescente, e algumas poderão ter de ser retiradas de serviço. Muitos governos não se prepararam para estas necessidades, alertam os autores de um estudo realizado pela Universidade das Nações Unidas.
O volume de água armazenada em grandes barragens estima-se entre 7.000 a 8.300 km cúbicos; o suficiente para cobrir 80% da massa terrestre do Canadá, num metro de água. Uma boa manutenção pode assegurar que uma barragem, bem projectada, possa durar 100 anos sem causar problemas, mas muitas das grandes barragens actuais foram construídas muito antes de os riscos da crise climática se tornarem claros.
A alteração dos padrões de precipitação e os acontecimentos climáticos mais extremos têm colocado as barragens sob tensões que não foram previstas pelos que as projectaram, disse Vladimir Smakhtin, director do Instituto da Água, Ambiente e Saúde (UNU), no Canadá, e co-autor do estudo. “A crescente frequência e gravidade das inundações e outros eventos ambientais extremos podem ultrapassar os limites de concepção de uma barragem e acelerar o seu processo de envelhecimento”, disse Smakhtin.
As falhas nas barragens arriscam a vida das pessoas que vivem a jusante, e as barragens envelhecidas deveriam ser investigadas para avaliar a ameaça, mas as falhas em grande escala provavelmente continuariam a ser raras, afirmaram os autores do artigo. Uma ameaça mais provável é que, mesmo sem acidentes graves, os países dependentes de grandes barragens como reservatórios e para a hidroeletricidade, possam enfrentar problemas se as barragens não forem adequadamente mantidas para fazer face às alterações climáticas.
“Este é um risco emergente”, disse Smakhtin. “Não há uma catástrofe imediata a nível global, mas existem 60.000 grandes barragens espalhadas por todo o mundo, e nenhuma delas está a ficar mais jovem”.
A crise climática significou que as grandes barragens em todo o mundo deveriam ser reavaliadas, disse Duminda Perera, um investigador sénior do instituto e autor principal do estudo. “Grandes inundações e as mudanças de precipitação podem estar para além da capacidade destas estruturas, e podem causar um maior risco de colapso”, afirmou.
Uma questão comum é que chuvas mais intensas podem provocar a erosão dos cursos de água a montante, e as cheias aumentam os detritos e sedimentos que fluem para as barragens, causando uma acumulação de sedimentos.
A maioria das grandes barragens do mundo estão concentradas num pequeno número de países – nove em cada 10 estão localizadas em 25 países. A China tem a maior parte, com quase 24.000 grandes barragens, enquanto muitas outras se encontram na Índia, Japão e Coreia do Sul. Quase metade do volume mundial dos rios é já afectado por barragens, e a maioria das grandes barragens existentes foram construídas entre 1930 e 1970, com uma esperança de vida prevista de 50 a 100 anos.
Existem cerca de 16.000 grandes barragens com idades entre os 50 e 100 anos na América do Norte e Ásia e 2.300 que têm mais de 100 anos. Desde o ano passado, mais de 85% das grandes barragens nos EUA estavam a funcionar com, ou para além, da sua esperança de vida. O custo estimado da sua reabilitação é de cerca de 64 mil milhões de dólares (aproximadamente 60 mil milhões de Euros), de acordo com o relatório.
Quando o desmantelamento é necessário, os governos irão enfrentar problemas complexos. Poucas grandes barragens foram desmanteladas até à data, pelo que há poucos exemplos com os quais se possa aprender. “É difícil dizer quantas podem precisar de ser desactivadas”, disse Perera. “É muito específico de cada contexto, dependendo da idade e da condição – diferentes barragens envelhecem a um ritmo diferente”.
20 Jun, 2022 | Destaques, Opinião
No último dia de 2021 foi aprovada em Portugal a nova lei de bases do clima. Por força dessa lei, pela primeira vez são aplicados ao clima dois conceitos de grande importância: o conceito de património da humanidade e o conceito de diplomacia climática. Esta lei obriga o Estado português a desenvolver ações diplomáticas junto das Nações Unidas com vista ao reconhecimento daquilo que Portugal já reconheceu: que apesar de o clima não pertencer a ninguém, muitas atividades simples, do dia-a-dia (desde andar de carro até acender a luz, e ligar o aquecedor ou o ar condicionado) podem prejudica-lo. Que o clima deve ser protegido para as gerações futuras e essa é uma responsabilidade de todos: do governo, das empresas, das organizações e de todos nós, como cidadãos eco responsáveis.
Qual a relação entre o clima e os rios?
Primeiro, as alterações climáticas estão a alterar os nossos rios. Os rios têm cada vez menos água, o que os torna mais vulneráveis à poluição relacionada com águas residuais urbanas, com fertilizantes agrícolas, com efluentes industriais.
Segundo, os rios também fazem parte do património da humanidade. Tal como o clima, os rios não pertencem a ninguém e os Estados são apenas guardiães desse património. É a Diretiva europeia da água que o afirma: a água não é um bem como os outros, a água é um património.
Terceiro, os rios são ecossistemas frágeis, que são afetados por atividades como captação de água para irrigação, construção de barragens para produção de energia elétrica, emissão dos já mencionados efluentes e pela expansão progressiva de espécies invasoras.
Estes fatores de desequilíbrio para os rios devem ser objeto de medidas de controlo que só fazem sentido se forem desenvolvidas ao longo de todo o curso do rio, e por toda a bacia hidrográfica. Ora, considerando que os maiores rios portugueses são rios internacionais, partilhados com Espanha, é imprescindível haver uma articulação entre as entidades dos dois lados da fronteira para, através da colaboração recíproca, se reforçar a capacidade de combate aos fatores de risco e o conhecimento das melhores técnicas de adaptação às alterações climáticas.
Os rios podem ter dois nomes (Miño/Minho; Limia/Lima; Duero/Douro; Tajo/Tejo) mas são um rio só cujas águas fluem pelo território dos dois estados e vão “sofrendo” com as atividades que afetam o seu caudal, a qualidade da água, as espécies piscícolas e outras espécies fluviais ao longo de todo o trajeto. Os efeitos das atividades lesivas, junto à nascente, fazem sentir-se mais tarde, junto à foz. Os efeitos das atividades prejudiciais ao longo de uma margem, prejudicam também a outra margem.
O ambiente não conhece fronteiras, e os rios também não. Temos que protege-los por nós, pelos nossos filhos, e pelos nossos netos e bisnetos.
